quinta-feira, 21 de abril de 2011

As ocupações de prédios vazios e o esvaziamento do centro da cidade do Rio de Janeiro

A partir de meados do Século XX, centros de várias cidades no mundo experimentaram um declínio de atividades econômicas e de empregos. Algumas destas cidades conseguiram reverter este processo, resgatando a importância histórica de seus centros.
No Brasil, a despeito de várias tentativas, tem sido difícil promover a reversão do processo, em decorrência da pressão da especulação imobiliária sobre novas áreas. A idéia de novos estilos de vida e a promessa de espaços com a segurança que a cidade tradicional não oferece atraem as classes altas e média. Salvo em algumas ações pontuais bem sucedidas, os centros tradicionais de cidades como São Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre revelam em maior ou menor grau os poucos investimentos recebidos pelo poder público.
A cidade do Rio de Janeiro apresenta uma situação peculiar por sua história como antiga capital do império e da república. A cidade foi o centro do País em momentos de grande expansão urbana e até a década de 1950 era a maior cidade do Brasil. Com o desenvolvimento da indústria de base e de bens de consumo, o Rio de Janeiro perdeu importância em relação à São Paulo, o que se agravou com a transferência da Capital. De fato, a cidade do Rio de Janeiro sofreu no decorrer do Século XX, um forte processo de esvaziamento populacional de seu centro histórico e financeiro.
Além disto, por vários motivos, como a erradicação de cortiços e favelas, ou a setorização das atividades urbanas, a habitação na área central do Rio foi proibida por lei. Por sua vez, a transferência da capital para Brasília impactou bastante a região que acolhia a maioria dos edifícios governamentais, muitos dos quais estão abandonados até hoje. Outros fatores contribuíram para o esvaziamento das atividades que historicamente se concentravam nesta área. Por exemplo, a modernização da atividade portuária, que deslocou grande parte de sua atividade para o porto de Sepetiba – deixou uma série de galpões e prédios vazios.
Vale, ainda, ressaltar algumas características do desenvolvimento sócio-econômico brasileiro. Sucessivas políticas de concentração de renda colocaram o Brasil entre aqueles com maior distância entre os mais pobres e os mais ricos. Para agravar este quadro, a crise econômica da década de 1980 promoveu o crescimento do desemprego, o que acabou incrementando a economia informal. Esta informalidade aliada à ineficácia do Estado para o enfrentamento da questão habitacional, revelou-se também no crescimento das favelas e outros espaços de moradia da população pobre. Paralelamente, uma dinâmica de segregação sócio-espacial, empurrou a população pobre para a periferia do município ou para áreas periféricas da região metropolitana. A inexistência de uma rede de transporte de massa eficiente e barata representa um grande entrave para as táticas de sobrevivência dos mais pobres, uma vez que as fontes de trabalho e renda se concentram em espaços centrais da cidade. O quadro de informalização do trabalho, os altos custos do transporte, além do tempo de deslocamento, contribuiu para o surgimento de uma população de rua atípica, pois é formada por pessoas com moradia nas periferias distantes, mas que dormem nas ruas durante a semana para não terem que arcar com os custos do deslocamento.
Um outro problema contribuiu para o crescimento dos chamados moradores “sem-teto”. Devido ao crescimento da violência urbana, diversas áreas passaram a sofrer mais diretamente com a ação dos grupos violentos, tais como narcotraficantes ou membros de milícias – que se legitimam sob o pretexto de dar segurança à comunidade.
Conseqüentemente, somaram-se aos realmente sem teto que de noite ocupam as calçadas do Centro da Cidade, grupos de moradores das periferias que passaram a morar nas ruas como tática para mitigar os gastos diretos e indiretos com os deslocamentos diários.
Enquanto, cada vez mais, um número maior de famílias passam a habitar o centro da cidade do Rio de Janeiro, diversos lotes e edifícios encontram-se ociosos, dentre os quais, diversos edifícios públicos que ficaram vazios em decorrência da transferência da sua atividade para Brasília ou devido à reestruturação do Estado, que abriu mão de algumas de suas atribuições, delegando-as para a iniciativa privada.

(Comentário: É importante destacar a dificuldade de reversão do processo de esvaziamento dos centros urbanos, em decorrência da pressão da especulação imobiliária sobre novas áreas. Além disso, o processo de esvaziamento descrito no texto chama a atenção para o crescimento da informalidade e ineficiência do Estado para o enfrentamento da questão habitacional. A população pobre destinada às periferias, aliada ao quadro de informalidade do trabalho, altos custos de transporte e tempo de deslocamento, faz surgir uma população de rua atípica. Essa composta por pessoas que possuem moradia nas periferias distantes, mas que dormem nas ruas durante a semana para não terem que arcar com os custos do deslocamento diário.)

Associação Chiq da Silva
Disponível em: http://www.chiqdasilva.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=56:imgtxt01&catid=3:textos&Itemid=4

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