domingo, 10 de abril de 2011

Prédios abandonados se transformam em "fantasmas urbanos"

Enquanto comemoram projetos que recuperam áreas degradadas e prédios antigos, moradores de BH ainda não sabem o destino de imóveis como o edifício do Cine Brasil.

A Belo Horizonte da Serra do Curral, do conjunto arquitetônico da Pampulha e do Parque Municipal tem outras áreas e prédios muito conhecidos pela população, que deveriam ser também considerados cartões-postais da cidade, mas se tornaram verdadeiros fantasmas da paisagem urbana. São grandes obras inacabadas, imóveis comerciais falidos e espaços de lazer que não conseguiram acompanhar o avanço da tecnologia e estão na contramão dos espaços que vêm sendo revitalizados pelo poder público ou a iniciativa privada.

Enquanto o Jóquei Clube de Minas Gerais vai dar lugar ao centro administrativo do estado e empreendimentos da região central são transformados em moradias populares, locais como o Mercado Distrital da Barroca, o Cine Brasil e o inacabado hotel cinco estrelas da Avenida do Contorno, esquina da Rua Rio de Janeiro, não têm nem projetos para sair do ostracismo.

A prefeitura e órgãos do estado e da União se interessaram por alguns desses imóveis, mas as negociações com os donos não avançaram. Numa delas, a prefeitura e a empresa Funchal, responsável pelo Cine Brasil, estudaram a viabilidade de o espaço ser transformado em um teatro municipal, com a apresentação de peças e filmes a preços populares. A negociação caminhava para permuta envolvendo imóveis do poder público e, caso o acordo fosse fechado, poderia entrar na jogada o ex-Cine México, na Avenida Oiapoque, transformado em estacionamento.

O prédio do Cine Brasil está avaliado em cerca de R$ 12 milhões e ocupa um dos endereços mais nobres da cidade, no quarteirão fechado da Rua Carijós, na Praça Sete. Inaugurado em 1932 e um dos principais exemplares do estilo art déco da cidade, ele foi ponto de encontro de várias gerações nas décadas seguintes. Mas, em 1999, o principal cinema da cidade não teve um final feliz e fechou as portas. “Vinha aqui pelo menos três vezes por semana quando jovem. Espero uma solução do poder público ou do dono. Aqui era muito bom e dava para arrumar namoradas”, recorda o aposentado Osmar Correia, de 67 anos.

Mais um imóvel vazio que provoca saudosismo nos mais velhos – mas também críticas na vizinhança – é o Mercado Distrital da Barroca, fechado há seis anos. Ele era ponto de referência da região para o comércio de verduras e legumes, além da tradicional rodada de cerveja do fim de semana. Hoje, serve como depósito para carteiras e cadeiras estragadas das escolas municipais, sendo um pavio curto para incêndio. O mato já tomou conta do local e a sujeira parece não ter fim.

O gerente de Apoio ao Sistema de Abastecimento (Geasa) do município, João Ávila Filho, informa que a prefeitura pretende vender a área, mas desconhece qualquer negociação em curso: “Ela foi desaforada e a Câmara Municipal já autorizou a venda”.

O descaso com o ex-mercado deixa indignados antigos freqüentadores e até os lavadores de carros dos quarteirões próximos. “Estou trabalhando na região há 26 anos. Comecei como carregador aí dentro e, agora, estou aqui fora lavando veículos. Foi com o dinheiro ganho aí que criei meus filhos. Aliás, aí era como uma família. Quem conheceu antes e vê agora fica triste”, desabafa um guardador de carros que tem 42 anos e prefere não se identificar.

Cinco estrelas

Outro imóvel na mesma situação e que também está na Avenida do Contorno, mas localizado no hipercentro, é o inacabado prédio, sujo e pichado, que seria o único hotel cinco estrelas da capital na década de 1980. São 428 apartamentos em 25 andares. A obra teve início há 20 anos e há mais de 10 foi paralisada. O imóvel pertence a três herdeiros de Ferdinando Cardoso, um empresário de BH no ramo hoteleiro e que projetou a obra.

Um de seus filhos, Paulo Cardoso, chegou a ser procurado pela Caixa Econômica Federal (CEF) que queria transformar o edifício em moradia popular. Depois, a Caixa não achou a proposta viável, pois pagaria R$ 34 mil por apartamento, o que daria cerca de R$ 12 milhões. Ainda teria que gastar com o fim da obra”, explica o empresário, que disse ter sido procurado também pela Defesa Civil do estado. Da mesma forma, a conversa não vingou.

O empresário revela, contudo, que ofereceu o prédio ao Ministério do Trabalho: “A resposta deve sair em 30 dias”. Se não conseguir, ele pensa em procurar um sócio para finalizar a obra e transformar o prédio num centro comercial, para alugar os andares corridos. “A região está ficando boa. Ainda mais com a redução da violência no hipercentro e a construção do bulevar do Arrudas (uma das etapas da Linha Verde)”, afirma Cardoso. Ele admite que seu imóvel já foi freqüentado por moradores de rua, mas alega que, atualmente, nenhum mendigo ou viciado em drogas tem acesso à construção.

Paulo Henrique Lobato / Estado de Minas
Disponível em: http://www.folhadecontagem.com.br/site/modules.php?name=News&file=article&sid=1425

(Comentário: A reportagem demonstra que enquanto importantes edificações da cidade de Belo Horizonte estão sendo recuperadas, outras, tão importantes quanto essas, ainda encontram-se abandonadas e sem projetos para novos usos. Uma das razões seria a negociação entre o poder público e os donos das edificações, a qual não chega a um resultado. Entre esses edifícios está o Cine Brasil, localizado na Praça Sete e avaliado em 12 milhões de reais, sendo significativo para antigos moradores que acompanharam sua inauguração em 1932, constituindo o principal cinema da época. Negociações entre a prefeitura e a empresa responsável pelo Cine Brasil, estudaram a viabilidade de transformá-lo em teatro municipal, caminhando para uma permuta envolvendo imóveis do poder público.)

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